Fernando Diniz – Conheça a História e Filosofia do treinador mineiro
Conhecido por ser adepto de uma nova forma de se encarar o futebol, Fernando Diniz é um técnico que divide opiniões dos fãs do esporte. Entre os que concordam com seu estilo e os que abominam a sua filosofia, existe apenas uma concordância: há beleza em seu jogo. Porém, a sua trajetória no mundo do futebol ainda é desconhecida por muitos que amam o esporte. Mas, e você? Quer conhecer a história e a filosofia deste mineiro de ideias tão novas? Então venha conosco nessa viagem que busca entender a vida e mente de Fernando Diniz.
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Quem é Fernando Diniz?
Nascido em 27 de março de 1974, Diniz é natural de Patos de Minas. Porém, suas raízes se estabeleceram longe da calmaria do interior. O caçula de sete filhos viajou junto de sua família para São Paulo, onde buscavam melhores condições de vida. Foi na zona leste da cidade, onde o atual técnico de futebol teve sua infância.
Lá, a paixão pela bola teve seu início, um instrumento que saiu de simples brinquedo para a sua melhor companheira. Junto dela e de seus amigos, Diniz adentrava as noites com um único propósito: se divertir. Hoje, é notável o quanto o futebol de rua influenciou em sua concepção de jogo, mas nessa época Fernando nem sabia o que o futuro lhe guardava.
As Mudanças de Rumo
Impressionando por sua habilidade na rua, o então craque mirim foi para as quadras de futsal, onde se tornaria uma grande promessa. Sua ligação com a bola era tanta, que essa quase fazia parte de seu corpo. Uma qualidade tão natural, nascida da liberdade das ruas e trabalhada na coletividade das quadras. E foi jogando no CTC (Círculo de Trabalhadores Cristãos), que Diniz conheceu um grande amigo do mundo futebolístico. Destaque por sua habilidosa canhota, Fábio Carille também morou na zona leste de São Paulo, sendo tido como uma grande promessa do então futebol de salão. Os dois, apesar de amigos, possuem visões contrastantes de jogo.
Enquanto Diniz é reconhecido por sua ofensividade e plasticidade, Carille aposta na força defensiva de suas equipes, com maior rigidez no posicionamento de seus jogadores. Mas bem antes de lapidar sua visão sobre o futebol, Fernando foi grande promessa do futsal paulista. Saindo do CTC e indo parar no Clube Atlético Juventus – conhecido popularmente como Juventus da Mooca -, o mini-craque foi campeão de torneios regionais, estaduais e nacionais. Após uma passagem brilhante pela equipe de salão da General Motors, Diniz passou a dividir sua atenção entre as quadras e os campos.
A transição foi difícil, tendo uma grande queda de rendimento. Aos que acompanharam a arte do mineiro no futsal, a decisão de ir para o campo se mostrou errada, uma vez que sua criatividade e liberdade lhe foram tiradas em prol de um sistema. Hoje atuando como treinador, Diniz concorda que o futebol não gerou oportunidades para a sua melhor fase. Em entrevista concedida ao GE, Fernando relata:
“Eu jogava melhor no salão do que no campo. Muitas pessoas me falam que eu não devia nunca ter parado de jogar salão. Até brinco: parei para poder ser técnico de futebol, mais do que para ser jogador de futebol de campo”.
Fernando Diniz
E essa grande mágoa gerada pelos campos foi a base utilizada para o atleta se tornar um treinador de jovens ideias.
A Humanização do Atleta – Para além de uma Peça
Conhecido por alguns como um “treinador de base no profissional”, Diniz busca evocar em seus atletas o prazer no sonho de se jogar futebol. Indo na contramão de diversos clubes que buscam tratar os jogadores apenas como peça de um sistema, Fernando enxerga o ser humano praticante do jogo. A inversão de valores em diversas categorias de base, cria ambientes onde o resultado se torna mais importante que a formação social dos jovens. Com isso, o crescimento desses atletas os levam a se tornarem arredios, enraivecidos e muitas vezes desrespeitosos com treinadores e familiares.
A tentativa de levar a leveza e liberdade das ruas para o profissionalismo dos campos é a grande tarefa do mineiro no futebol.
E esse pensamento teve seu início em sua experiência como jogador. Obrigado a jogar em um sistema de posicionamento fixo, sua criatividade e vontade própria não eram levadas em consideração por seus treinadores. É aí onde Diniz rompe com a grande maioria dos profissionais que vivem o jogo. O sonho, o prazer e a criatividade são pontos inegociáveis de seu estilo. E foi assim que o treinador mudou a vida de diversos jogadores. Um deles foi o meio-campista Bruno Guimarães.
Alçado ao profissional com 15 anos pelo próprio Fernando, Bruno teve sua carreira impulsionada pelo treinador, quando já achava que não teria chances de chegar a uma grande equipe. A atenção pela vida pessoal do atleta gera um maior nível de conexão e confiança dentro do campo, com Diniz conhecendo onde o jogador pode atuar de maneira mais confortável.
Futebol Pela Arte
“O futebol: É arte ou ciência? Para mim, ele é mais arte do que ciência. Você precisa cada vez mais de ciência no futebol, mas a gente não pode esquecer da arte. Quando ele acontece de maneira artística, fica impregnado na memória dos torcedores para sempre.”
Fernando Diniz
Este é um trecho da entrevista de Fernando Diniz ao Mini Documentário “Pela Arte”, que mostra os bastidores da conquista da Libertadores por parte do Fluminense. A tentativa de se expressar de maneira artística, por meio do jogo, vai de encontro ao o tom resultadista que vemos imperar no futebol atual.
A retomada do prazer de se jogar e assistir ao esporte é também o desejo de outros. Em entrevista recente, o meia-atacante francês, Rayan Cherki, relatou o seu desejo de dar felicidade aos que assistem suas partidas:
“O futebol é menos assistido porque é mais robótico. Quero dar prazer aos espectadores, voltar ao futebol de antigamente”
Rayan Cherki
No entanto, os que desejam essa volta à arte e ao prazer são tidos muitas vezes como “loucos” ou “ruins de trabalho” por seus contrários, que entendem o esporte por seu resultado final. É por esse motivo que Diniz aposta em um estilo de extrema conexão com os jogadores sul-americanos, que constroem nas ruas os seus sonhos de produzirem arte nos gramados.
O Relacionismo e seus laços com o Futebol Sul-americano
Indo na contramão do conhecido Jogo de Posição – estilo onde os jogadores permanecem mais fixos em suas posições no campo, com a bola indo aos seus espaços -, Diniz aposta em um jogo mais próximo de nossa cultura. Conhecido por muitos nomes, o Relacionismo também pode ser chamado de Jogo Funcional ou Jogo Aposicional, este último cunhado pelo próprio Fernando Diniz.
Este modo se baseia na aproximação dos jogadores no setor da bola, apostando nas suas relações e criatividade. Para o mineiro, as movimentações sem a bola e a liberdade do jogador para tomar suas decisões são pontos importantíssimos para que os atletas se sintam felizes dentro do campo.
Fernando também crê que o futebol brasileiro há de confiar mais em suas raízes, ao invés de beber das fontes europeias de jogo. Isso se fortalece no discurso de uma identidade brasileira de futebol, como existem em diversos países. Os jogadores da seleção brasileira, especialmente nas Copas de 1970 e 1982, demonstravam muita liberdade de movimentação em campo.
Ali a criatividade e liberdade são percebidas, com jogadores possuindo grande inventividade. A arte é produzida como algo natural e intrínseco ao jogador, como se em uma grande partida de rua, o gol se tornasse resultado do prazer de jogar, e o assistir da partida um grande entretenimento.
Mas por que esta é uma forma de jogo Sul-Americana? Assim como nos anos 80 e 90, nossos vizinhos argentinos jogavam com muita liberdade de movimentação. Chamado de “La Nuestra”, o jogo argentino possuía grandes bases nas aproximações entre jogadores, para progredirem em passos curtos. Além disso, os argentinos frequentemente utilizavam o famoso ‘toco y me voy’ em suas partidas.
Este é um dos principais motivos da grande celebração do trabalho de Lionel Scaloni, que em pouco tempo e em uma Copa do Mundo, retomou para as raízes do futebol argentino, colhendo grandes frutos, não apenas com o título, mas também com a revelação de grandes jogadores.
O Criador Húngaro
Porém, é importante salientar que além do futebol de rua, o futebol sul-americano sofre grandes influências das bases do futebol húngaro. As conexões remontam ao ano de 1940, quando Izidor “Dori” Kürschner treinou o Flamengo e o Botafogo.
A aproximação em torno da bola, com movimentações que aguçam a mente dos demais jogadores, foram pontos chave para a primeira revolução do futebol brasileiro. É daí que nasceu o “Jogo Bonito”, é disso que a seleção se orgulhou, e foi assim que ela chocou o mundo.
Estudante de Comunicação Social – Jornalismo, sou um apaixonado pela escrita e leitura desde jovem. Mergulhando neste mundo me encantei pelo futebol, filmes, livros e entretenimento geral sempre buscando estar ligado às novidades do mundo.